sábado, 23 de junho de 2012

Ser cadeirante...

Vou colocar aqui um texto bem legal que encontrei num blog (http://www.deficienteciente.com.br) escrito por Letícia Oliveira. Espero que gostem... eu me identifiquei em diversas situações...


SER CADEIRANTE…

Ser cadeirante é ter o poder de emudecer as pessoas quando você passa…

Ser cadeirante é não conseguir passar despercebido, mesmo quando você quer sumir! E ser completamente ignorado quando existe um andante ao seu lado. E isso não faz sentido, as pernas e os braços podem não estar funcionando bem, mas o resto está!

Ser cadeirante é amar elevadores e rampas e detestar escadas… Tapetes? Só se forem voadores, por favor! Ser cadeirante é andar de ônibus e se sentir como um “Power Ranger” a diferença é que você chega ao ponto e diz: “é hora de MOFAR”.

Ser cadeirante é ter alguém falando com você como se você fosse criança, mesmo que você já tenha mais de duas décadas.

Ser cadeirante é despertar uma cordialidade súbita e estabanada em algumas pessoas. É engraçado, mas a gente não ri, porque é bom saber que ao menos existem pessoas tentando nos tratar como iguais e uma hora eles aprendem!

Ser cadeirante é conquistar o grande amor da sua vida e deixar as pessoas impressionadas… E depois ficar impressionado por não entender o porquê do espanto.

Ser cadeirante é ter uma veia cômica exacerbada. É fato, só com muito bom humor pra tocar a vida, as rodas e o povo sem noção que aparece no caminho.

Ser cadeirante e ficar grávida é ter a certeza de ouvir: “Como isso aconteceu?” Foi a cegonha, eu não tenho dúvidas! Os pés de repolho não são acessíveis! 

Ser cadeirante é ter repelente a falsidade. Amigos falsos e cadeiras são como objetos de mesma polaridade se repelem automaticamente.

Ser cadeirante é ser empurrado por ai mesmo quando você queria ficar parado. É saber como se sentem os carrinhos de supermercado! Ser cadeirante é encarar o absurdo de gente sem noção que acha que porque já estamos sentados podemos esperar, mesmo!

Ser cadeirante é uma vez na vida desejar furar os quatro pneus e o step de quem desrespeita as vagas preferenciais.

Ser cadeirante é se sentir uma ilha na sessão de cinema… Porque os espaços reservados geralmente são um tablado ou na turma do gargarejo e com uma distancia mais que segura pra que você não entre em contato com os outros andantes, mesmo que um deles seja seu cônjuge!

Ser cadeirante é a certeza de conhecer todos os cantinhos. Porque Deus do céu, todo mundo quer arrumar um cantinho para nós?

Ser cadeirante é ter que comprar roupas no “olhômetro” porque na maioria das lojas as cadeiras não entram nos provadores Ser cadeirante é viver e conviver com o fantasma das infecções urinárias. E desconfio seriamente que a falta de banheiros adaptados contribua para isso.

Ser cadeirante é se sentir o próprio guarda volumes ambulante em passeios pelo shopping Ser cadeirante é curtir handbike, surf, basquete e outras coisas que deixam os andantes sedentários morrendo de inveja. Ser cadeirante é dançar maravilhosamente, com entusiasmo e colocar alguns “pés-de- valsa” no bolso…

Ser cadeirante é ter um colinho sempre a postos para a pessoa amada… E isso é uma grannndeeee vantagem! Ser cadeirante (e mulher) é encarar o desafio de adaptar a moda pra conseguir ficar confortável além de mais bonita.

Ser cadeirante é se virar nos trinta pra não sobrar mês no fim do dinheiro, porque a conta básica de tudo que um cadeirante precisa… Ai… Ai… Ai… Essa merece ser chamada de Dolorosa.

Ser cadeirante é deixar um montão de médicos com cara de: “e agora o que eu faço” quando você entra pela porta do consultório… Algumas vezes é impossível entrar, a cadeira trava na porta…

Ser cadeirante é olhar um corrimão ou um canteiro no meio de uma rampa, ou se deparar com rampas que acabam em um degrau de escada e se perguntar: Onde estudou a criatura que projetou isso? Será mesmo que estudou?

Ser cadeirante é ter vontade de grudar alguns políticos em uma cadeira por um dia e fazer com que eles possam testar os lugares que enchem a boca pra chamar de acessíveis…

Ser cadeirante é ir à praia mesmo sabendo que cadeiras + areia + maresia não são uma boa combinação! Ser cadeirante é sentir ao menos uma vez na vida vontade de sentar no chão e jogar a cadeira na cabeça de outro ser humano.

Leticia Oliveira
(leticia-oli@hotmail.com)

terça-feira, 19 de junho de 2012

Olá...

Quase 2 anos sem dar as caras aqui no blog. E aconteceram tantas coisas que nem sei por onde começar...
Em julho de 2010 (última postagem), eu nem tinha me formado ainda... Bom, então nada como começar contando a partir daí. Mas farei isso colocando em pequenos tópicos, senão seriam dias e mais dias escrevendo a minha vida, hahah...

* Me formei no dia 21/08/2010. Foi tudo muito bom! Nem acreditava que aquele dia já havia chegado... Foi bem complicado o final da faculdade pois inventei de trabalhar numa escola particular (que abandonei depois de 2 meses... sem comentários, please!), trabalhava na editora o dia inteiro, fazia o TCC e 3 estágios pela noite no Inácio Montanha. Um pouco depois também comecei a dar aulas on-line de espanhol, mas a empresa foi vendida para outro estado... uma pena, era bem legal dar aula on-line.

* Depois da formatura, lembro que pedi férias da editora... 30 dias de liberdade! Já estava livre da faculdade então pude aproveitar bastante. Era setembro e o Rafa tb estava de férias, então decidimos viajar! Fomos para Recife e Porto de Galinhas. Aproveitamos ao máximo aquela terra linda, e ainda fizemos várias amizades legais por lá. Antes de viajar fiz um curso de atualização para professores de espanhol, organizado pela embaixa da Espanha e outras empresas e cursos. Ganhei vários livros nos sorteios, as aulas tb foram bem produtivas.

*Quando voltei de viagem, saí da editora, mas continuei trabalhando lá por fora, fazendo revisões... Aí comecei a procurar emprego em outro lugar. E não é que encontrei... Uma empresa de concursos públicos me chamou e estou lá até agora. Na verdade estou de licença saúde, mas essa história faz parte de outro tópico...

* O Rafa passou no concurso da Petrobrás! Ele ficou feliz e triste, pois a vaga seria para qq estado do Brasil... ele não sabia se aceitava ir ou não, aí conversamos e decidimos que seria uma boa! Então ele pediu demissão do antigo emprego e ficou mais de um mês em casa esperando ser chamado para o curso preparatório, que foi em Salvador. Em setembro ele foi para Salvador... uma época bem crítica, foi quando descobri que tinha um problema de saúde e era preciso operar urgente!...

*Em abril de 2011 comecei a cair do nada... Na verdade, já estava com uma dor horrível nas costas, que só piorava, aí vieram as quedas... Não sei nem explicar como acontecia, estava caminhando e de repente minha perna fraquejava e eu ia ao chão! Foi ficando cada vez pior, tanto a dor, quanto as quedas... Cheguei a fazer fisioterapia, pensando ser um problema postural, afinal, trabalhava muitas horas sentada... e isso acaba com qualquer um. Mas a cada dia de fisioterapia a situação piorava... Só conseguia dormir numa posição específica, caminhava me escorando nos móveis e paredes, e durante a noite sentia fortes impulsos elétricos percorrendo minhas pernas... elas se moviam sozinhas durante a noite, era horrível. Continuei trabalhado mesmo assim, mas estava sendo muito sacrificante... comecei a pegar dois ônibus para ir trabalhar e estava caminhando cada vez mais devagar pois tinha a impressão que iria cair a qualquer momento... Uma das pernas não me obedecia direito, sem contar que eu estava perdendo a sensibilidade da coxa esquerda... Levei um tombo feio uma vez indo almoçar... Machuquei bastante o meu joelho, e aí era mais uma coisa para doer (e me preocupar). Como estava sem plano de saúde, procurei uma daquelas clínicas do centro, que atendem várias especialidades por R$30,00 reais. Consultei com um ortopedista, que só me receitou remédio para dor... Quando disse a ele que não estava sentindo a coxa esquerda, ele disse: "O quê? Não pode..." Mas me deixou sem resposta. Tenho a plena certeza de que ele não acreditava em mim. Ele pediu que eu frequentasse uma fisioterapia, se não adiantasse pediu que eu fizesse uma ressonância magnética da coluna... Fiz a tal fisioterapia, mas na quinta sessão desisti... Mal conseguia ir para a fisioterapia, minha mãe tinha que me acompanhar para que eu pudesse me segurar nela para caminhar. Uma vez quase caímos no chão... Então resolvi fazer a ressonância magnética antes mesmo de terminar as sessões de físio. Esse exame é muito caro, então escolhi fazer onde era mais barato (custou R$350,00 reais). Fiz ele e no dia seguinte me ligaram pedindo que eu refizesse o exame. Achei estranho, mas aí fiquei com a impressão que algo iria aparecer no exame. Fiz o novo exame (desta vez com contraste) e levei o exame ao médico que estava duvidando de mim. Ele fez uma cara de pavor quando olhou o resultado... Disse que eu estava com uma lesão na medula, e que deveria procurar um Neurocirurgião urgente. Quando ele falou "neurocirurgião" já vi que a coisa era séria... Ele me deu um atestado de 15 dias e lá fui eu em busca de um médico especialista...

* Marquei uma consulta no hospital Beneficiência Portuguesa para a segunda-feira seguinte. Quando mostrei os exames ao médico ele constatou que eu estava com um tumor na medula, chamado ependimoma, e a única solução seria operar. Ele encaminhou toda uma papelada para que a cirurgia fosse feita pelo SUS. Como o caso era "urgente urgentíssimo", o encaminhamento foi rápido (levando em conta o tempo que as pessoas esperam normalmente pelo SUS). Dia 10/10/2011 fui internada... Nos hospital ficava mais no quarto, pois mal conseguia caminhar. Cheguei a cair no banheiro, para não perder o costume, hahah... Minha cirurgia foi no dia 18/10... Me apavorei quando disseram que a cirurgia tinha durado quase 11 horas, mas o tumor era muito maior do que eles pensavam. A anestesia me afetou profundamente, imaginei coisas, sonhei coisas... às vezes não sabia o que era sonho ou realidade. Fiquei mega inchada devido às medicações. O médico disse que a recuperação nesses casos é super lenta, que deveria ter muita paciência e força de vontade. Fora a medicação e a fisioterapia intensas... Dia 28/10 tive alta e fui para a casa da minha tia, pois alí seria mais fácil de ir para o hospital se precisasse...

... e cá estou! Me recuperando a cada dia, fazendo fisioterapia para ficar boa logo logo! Já fiz aplicação de BOTOX nas pernas para ajudar no tratamento. Os médicos dizem que minha recuperação está sendo mais rápida do que o esperado, já que foi uma cirurgia bem invasiva, com riscos de sequelas de todo tipo. Minhas companheiras atualmente são: minha cadeira de rodas e minha mãe. Logo mais serão as muletas... E assim vou me recuperando a cada dia! Sinto que fiquei mais forte como pessoa, é uma experiência totalmente diferente na minha vida. Tenho certeza que aprendi e estou aprendendo muito com isso. O importante é não deixar a peteca cair e seguir em frente! 

Dá pra dizer que minha vida mudou completamente mesmo. Para conseguirmos o plano de saúde da Petrobrás eu e o Rafa nos casamos no civil no dia 12/11/2011 (o que possibilitou o BOTOX em março deste ano). Atualmente o Rafa está trabalhando e morando no RJ, e eu de licença saúde e morando na casa da minha tia. Mês que vêm vou para a casa da minha mãe... Estou morrendo de saudades dos meus gatos, que estão lá. Aí vou poder ficar juntinha deles! :o) Quando estiver mais independente, me mudo para o RJ... mas por enquanto não dá...

Bem,esta foi minha vida nos últimos tempos... Espero não demorar tanto para escrever novamente. Senão terei que escrever um livro novamente!! Heheh...

Beijos a todos!
Kelly